Tá difícil contratar e manter a equipe? Bem-vindo ao clube. A culpa, talvez, não seja (só) do funcionário. Nem da geração Z. Nem do salário.

Talvez o problema esteja na forma como o nosso setor insiste em ignorar a realidade. Nesse artigo, você vai entender por que tanta gente está virando as costas para os restaurantes — e o que fazer antes que o seu time inteiro peça demissão via WhatsApp.

Fechem as portas, a mão de obra sumiu

No primeiro semestre de 2024, a rotatividade nos restaurantes brasileiros foi de 74,3%, segundo a Abrasel. Setenta e quatro vírgula três por cento! É quase mais fácil trocar de equipe do que trocar o cardápio.

Para você ter uma ideia, a média de turnover no setor de serviços é de 35%. Ou seja: enquanto outras empresas trocam de funcionário uma vez, você já virou a equipe duas vezes e meia — e ainda está treinando o novo ajudante que sumiu depois do segundo expediente.

O setor virou o vilão da vez?

Você já reparou como, nos últimos anos, trabalhar em restaurante virou sinônimo de exaustão, estresse e zero perspectiva? E olha que a culpa não é só do salário baixo. O problema é o pacote completo: jornada insana, falta de reconhecimento e uma cultura de "aguenta firme" que mais parece um reality show de sobrevivência.

Segundo dados do Total Food Service e do setor de RH nos EUA:

  • Cerca de 62% dos trabalhadores que saíram da área durante a pandemia não querem voltar.
  • Entre os que ainda estão no ramo, mais de 50% consideram mudar de setor nos próximos 12 meses.

Não é por acaso que o iFood, por exemplo, viu crescer o número de pessoas que preferem rodar a cidade de moto a servir mesas com um sorriso amarelo. Tem liberdade, tem escolha e, na média, menos patrão gritando “acelera essa mesa 10!”.

Expectativa de carreira? Só se for em outro setor

Pensa rápido: o que um atendente recém-contratado pode esperar nos próximos 5 anos no seu restaurante?

Se a resposta for “virar gerente se alguém sair”, temos um problema. Enquanto outros setores falam de plano de carreira, capacitação e propósito, a gente ainda trata o funcionário como peça de reposição.

E aí o ciclo se repete:

  • Contrata-se às pressas.
  • Treina-se mal.
  • Cobra-se muito.
  • Perde-se rápido.

E o RH (ou o dono) segue culpando a geração Nutella.

O que pesa mais: o salário ou o ambiente?

Claro, ninguém está recusando dinheiro. Mas a pergunta que vale ouro é: quanto custa trabalhar no seu restaurante, além do que está na carteira?

Vamos às contas invisíveis:

  • Horas extras que nunca viram hora extra.
  • Clima tóxico disfarçado de "família".
  • Revezamento de folga que mais parece castigo.

Quem tem opção, pula fora. Quem não tem, adoece.

3 verdades que você precisa encarar (ou continuar rodando currículo)

Não é papo motivacional. É realidade de quem está na linha de frente:

  • Pessoas querem respeito, não só emprego. Um ambiente digno retém mais que uma bonificação.
  • Flexibilidade virou moeda forte. E quem não oferece, perde para o aplicativo de entrega ou para o home office.
  • A cultura da pressa espanta bons profissionais. A correria do salão não justifica a ausência de liderança.

Onde você pode (re)começar

Quer parar de sofrer com turnover crônico e finalmente montar um time forte? Abandone o improviso e encare alguns ajustes básicos — que parecem óbvios, mas são raros no dia a dia:

Função clara, jornada justa. Se o cargo é de atendente, ele não precisa fritar batata, cuidar do caixa e ainda limpar o banheiro.

Treinamento que prepara, não traumatiza. Jogar o novato no meio do fogo cruzado e esperar excelência em 3 dias é má gestão, não "batismo de fogo".

Feedback com frequência (e sem berro). Avaliar o time só quando dá ruim é receita para o caos. E gritar nunca foi método.

Reconhecimento que vale algo. Não basta chamar de “guerreiro” no grupo do WhatsApp. Quem entrega resultado precisa sentir que isso faz diferença na prática.

Caminho de crescimento real. Gente boa não quer só sobreviver — quer evoluir. E se não for no seu restaurante, será no do vizinho.

Fechando a Conta

No fim do dia, o problema da mão de obra é menos sobre “ninguém quer trabalhar” e mais sobre “ninguém quer sofrer por tão pouco”.

Mas ainda dá pra transformar a cozinha num lugar onde as pessoas queiram estar — e não só porque precisam. Então, da próxima vez que seu garçom faltar, respire fundo. Talvez ele só esteja procurando um lugar onde trabalhar não pareça um castigo.

E esse lugar pode (e deve!) ser o seu restaurante.

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