A Meituan é gigante chinesa com 2.000 engenheiros em IA e 3 milhões de entregadores que já digeriram mercados mais complexos que o nosso com apetite de império e eficiência de formigueiro comunista. E se decidir aterrissar por aqui, não vai pedir licença — vai chegar entregando.

Nesse artigo, você vai entender porque essa bicicleta turbinada pode atropelar o iFood, como isso muda o jogo pra quem depende do delivery e o que o seu restaurante pode fazer pra não virar só mais uma peça no tabuleiro de interesses Brasil-China da nova economia.


O império que entrega de bicicleta...e engole mercados

A Meituan não é apenas um "iFood da China". É um colosso do delivery e tecnologia de serviços locais, que em 2023 registrou mais de US$ 25 bilhões de receita só no setor de entrega de comida.

Alguns números para digerir melhor:

  • Atende mais de 670 milhões de usuários ativos por ano na China — o equivalente a três vezes toda a população do Brasil;
  • Possui uma frota de três milhões de entregadores cadastrados;
  • Processa mais de 60 milhões de pedidos por dia em média;
  • Opera com margens baixíssimas, mas compensa em volume e eficiência logística.

E não para por aí: a Meituan também oferece reservas em hotéis, ingressos, supermercado, aluguel de bikes e até check-up médico domiciliar. Ela não quer ser “um app de delivery”. Quer ser o super app da vida urbana.

Enquanto o iFood parece um marketplace que fatura em cima do seu pedido, a Meituan constrói um ecossistema onde o restaurante é parte de uma engrenagem maior — e não o elo mais frágil da corrente.

O iFood acomodou — e isso tem preço

O problema não é o iFood ser ruim. O problema é ele estar sozinho no jogo. Monopólio, como você já sabe, não estimula ninguém a melhorar. Resultado?

  • Comissões que chegam a 27%, às vezes mais com taxa de entrega;
  • Suporte que parece ter sido treinado em roteiros de call center dos anos 90;
  • Acesso restrito aos dados dos seus próprios clientes;
  • E uma guerra de cupons que destrói margens e fidelidade ao mesmo tempo.

Enquanto isso, quem está na cozinha vira refém de uma plataforma que não entende a realidade da rua, mas dita o que você pode ou não fazer pra sobreviver no jogo do delivery.

E se a Meituan chegar com tudo?

Imagina um player que chega com mais tecnologia, mais eficiência e menos sede de comissão. Parece sonho, né?

A Meituan tem:

  • Logística própria com inteligência de rotas em tempo real;
  • Média de comissão entre 10% e 15% na China (em cidades menores, até menos);
  • Sistemas de análise de demanda por bairro, horário e tipo de pedido;
  • Integração com programas de fidelidade, entrega expressa e até cardápio inteligente baseado no perfil do cliente.

Na prática, ela ajuda o restaurante a vender melhor, entregar mais rápido e entender o próprio negócio com mais clareza. Não é altruísmo: é modelo de negócio. Se o restaurante cresce, o ecossistema cresce junto.

Ah, e um detalhe curioso: a Meituan tem um braço de pesquisa em inteligência artificial com mais de 2.000 engenheiros, focado exclusivamente em otimizar logística, precificação e comportamento do consumidor. Enquanto isso, tem restaurante no Brasil tentando entender como mudar o preço no iFood sem sumir do ranking.

O que isso tem a ver com o seu restaurante?

Tudo. Porque quando uma gigante dessas pisa no território, o barulho chega até a cozinha do pequeno restaurante do bairro. E não adianta torcer o nariz. Se você está no delivery, está no jogo.

Algumas perguntas desconfortáveis que valem ser feitas agora:

  • Você tem autonomia sobre sua operação de delivery?
  • Tem controle real de quem são seus clientes e como se comunicar com eles fora da plataforma?
  • Está construindo algo que sobrevive se o app mudar as regras do jogo?

O que a Meituan pode ensinar (mesmo antes de chegar)

Olhe o que funciona lá fora, traga o que faz sentido e adapte com coragem. Não espere a Meituan abrir operação em Sampa pra repensar o jogo. Alguns pontos já merecem entrar na pauta da sua gestão:

  • Uso inteligente de dados: a Meituan usa IA pra prever o que vai vender antes de você fritar o primeiro pastel.
  • Logística integrada: controle total da rota, do entregador e do tempo real. Sem surpresas.
  • Modelo de marketplace eficiente: mais controle sobre comissionamento e visibilidade.
  • Cultura de experimentação rápida: testar, medir, ajustar. Nada de 6 meses pra trocar o banner do cardápio.
  • Plataforma é canal, não bengala: quem depende 100% do app, vive à mercê. Quem constroi marca, site, base de clientes e experiência própria, sobrevive à próxima onda.

E se ela engolir o iFood?

Pode acontecer. O iFood já perdeu a Colômbia. Já recuou em outros mercados.
Enquanto isso, a Meituan cresce sob o radar — silenciosa, calculista e com apoio estatal por trás de cada pedalada de entregador.

Não estamos falando de uma startup com investidores do Vale do Silício.
Estamos falando de uma gigante que opera com dinheiro do governo chinês, tecnologia de ponta e um plano estratégico de expansão global.
O delivery é só a porta de entrada para algo maior: controle da cadeia, dos dados e do consumo urbano.

No Brasil, o iFood virou rei porque não tinha ninguém pra incomodar.
Mas toda hegemonia tem prazo de validade — e quando um império chinês começa a sondar seu quintal, não é só uma briga de apps.


É uma disputa por território, influência e lucro. E a cozinha do seu restaurante vai ser o próximo campo dessa batalha.Agora a pergunta é:  vai esperar a mudança bater na porta, ou vai se preparar antes dela acontecer?

Tá inseguro sobre o futuro do delivery no seu restaurante? Posso te ajudar a desenhar estratégias mais autônomas, rentáveis e sustentáveis — com ou sem plataforma. É só chamar.


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